sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Para não se deixar vencer pelo cotidiano em 2011

EU SEI, MAS NÃO DEVIA
Clarice Lispector

Eu sei que nos acostumamos. Mas não devíamos.
Acostumamo-nos a morar em apartamentos de fundos, e a não ter outra vista que não as janelas em redor.
E porque não temos vista, logo nos acostumamos a não olhar lá para fora.
E porque não olhamos lá para fora, logo nos acostumamos a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abrimos as cortinas logo nos acostumamos a acender cedo a luz.
E à medida que nos acostumamos, esquecemos o sol, esquecemos o ar, esquecemos a amplidão....

Acostumamo-nos a acordar de manhã sobressaltados porque está na hora.
A tomar o café a correr porque estamos atrasados.
A ler o jornal no autocarro porque não podemos perder o tempo da viagem.
A comer uma sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite.
A dormitar no autocarro porque estamos cansados. A deitar cedo e dormir pesado sem termos vivido o dia.....

Acostumamo-nos a esperar o dia inteiro e ouvir ao telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem recebermos um sorriso de volta.
A sermos ignorados quando precisávamos tanto ser vistos.
Acostumamo-nos a pagar por tudo o que desejamos e o que necessitamos.
E a lutar, para ganhar o dinheiro com que pagar esses desejos e essas necessidades.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagaremos mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar....

Acostumamo-nos à poluição.
Às salas fechadas, de ar condicionado e cheiro a cigarro. À luz artificial.
Ao choque que os olhos sofrem com luz natural.
Às bactérias na água potável.
Acostumamo-nos a coisas demais, para não sofrermos....
Em doses pequenas, tentando não perceber, vamos afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá....

Se a praia está contaminada, molhamos só os pés e suamos no resto do corpo.
Se o cinema está cheio, sentamo-nos na primeira fila e torcemos um pouco o pescoço.
Se o trabalho está difícil, consolamo-nos a pensar no fim-de-semana.
E se no fim-de-semana não há muito o que fazer, deitamo-nos cedo e ainda ficamos satisfeitos porque temos sempre o sono atrasado.
Acostumamo-nos para não nos ralarmos com a aspereza, para preservar a pele.
Acostumamo-nos para evitar feridas.
Acostumamo-nos para poupar a vida. Vida que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A terra da garoa e da Clarice

Como assim? Que semana foi essa? Regada, literalmente, de muuita chuva e trânsito em São Paulo. Atoooron. Começou assim, quarta-feira, Mônica, Thiago, um cara que eu esqueci o nome e eu, fomos ao HSBC assistir "Non ma fille, tu n'iras pas danser". Filmes alternativos, sabecoméquiéné? Não entendi necas, mas gostei. A atriz principal parecia eu na TPM HAHAHA. A fotografia do filme é, de tão simples, linda de morrer.

Depois, como é de praxe de quando eu passo na Paulista, fui na Livraria Cultura saltitando, com dinheiro na bolsa destinado à um livro que eu li sobre em uma revista e me interessei muito.
Clarice, (sim, Clarice vírgula) é uma biografia da Clarice Lispector de "apenas" 647 páginas escrita por Benjamin Moser. Além dele, já que estou recentemente numa fase Clarice da vida, encomendei Perto do coração selvagem, também da Lispector, que eu pegava na biblioteca toda vez que passava na frente da mesma. E que da última vez, há duas semanas, quando o livro não estava disponível, decidi comprar um exemplar pra chamar de meu.
Eu nunca achei que ia gostar dos livros da Clarice. Quando li
A hora da estrela, no colégio, eu odiei. Talvez pela imaturidade do momento ou pela obrigação de ler para fazer uma prova. Mas, ano retrasado, após a insistência sutil de uma amiga carioca, Lica, de ler frases de seus livros, eu cedi. E quando, no final de 2008, eu estava tentando estudando na biblioteca e vi na estante ao meu lado Laços de família, abandonei as equações matemáticas e me entreguei ao livro, que adorei. A partir daí, me apaixonei e até cogito fazer uma tatuagem com uma célebre frase. "Liberdade é pouco, o que eu desejo ainda não tem nome".

O resto da semana foi bem... São Paulo. Choveu, aaah como choveu.
O dia inteiro. A marginal travou, tudo alagou, a cidade, o estado, o Sudeste ficou um caos. Ai, na Quarta à noite, a mesma carioca responsável pelo meu vício, me liga dizendo que está em São Paulo e que vamos (sim, ela, as melisseiras do flickr e eu) na SPFW. Topo, topo, topo, por que não? Ai, acordo na Quinta e... a marginal alagada. Adoro. Sem condições logísticas pra ir pro Ibirapuera o que me restou foi terminar de ver o meu super box de Sex and the city. Horas, dias gastos com a Carrie e o Mr. Big. Adoro!

Depois de um ataque monstro da minha gastrite, tudo aparece pra eu fazer né? Inacreditável o quanto uma doença pode ser sarcastica! Minha xará, Thuanne, me liga horrores na sexta à noite enquanto eu dormia pra evitar a dor da gastrite. Ela queria ir pra Dj, ou pro Milo, ou pra algum lugar. Infelizmente, não tava muito afim de vomitar em cima dela de novo (desculpa Thu) /interna. E na madrugada, minha outra xará, Thuanny, (gente, que mundo bizarro) me convida pra ir pra praia no sábado. Adoro antecedência HAHAHAHA. Não pude ir, por falta de recursos financeiros e saúde.

Bem, essa semana preciso fazer um novo projeto. Porque o tédio me deixa doente, fato. E que esse final de semana não me reserve nenhum ataque de gastrite inesperado. Se quiser me achar, só procurar um guarda-chuva verde limão aberto.