sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

The virgin suicides


Hoje vou fazer um post diferente. Vou falar de um livro que eu terminei de ler hoje: As virgens suicidas, de Jeffrey Eugenides. Quando me indicaram o filme homônimo, lá pelos anos 2000, me apaixonei. Tanto pela história em si quanto pela fotografia do filme. Mal sabia quem era Sofia Coppola na época, por isso minha inocência. Também mal sabia que o filme era uma adaptação de um livro.

Descobri há alguns anos que havia um livro, mas nunca tive oportunidade de ler. E de uns anos pra cá, ofuscada por Clarice Lispector, não queria ler mais nada que não fosse desta. Mas, diante a oportuna de 12 reais e minhas semanas monótonas de férias, comprei o livro e o li em 3 dias.

Falo primeiramente do meu interesse por assuntos demasiados depressivos. Desde nova, acho que pela influência primeiramente musical, me interessei por isto. Quando "descobri" o rock com Nirvana, era impossível ignorar o suicídio do vocalista Kurt Cobain. Aos 13 anos já tinha lido até mesmo a biografia do cantor, com uma... digamos fúnebre curiosidade pela morte dele.
Depois, com o suicídio de familiares relativamente próximos, tive mais contato com o assunto. Acho que há uma predisponibilidade à depressão na minha família, pensando nos casos mais atentamente. Anyway, passando por músicas deprês dos Smiths, Joy Division e David Bowie (sim, eu também gosto de coisas boas), eu sempre tive esse gosto pelo melancólico.
Claro, que todos esses fatores aumentam minha curiosidade e me fizeram ler esse livro.

The virgin suicides (título original) foi muito bem adaptado por Sofia Coppola. Enquanto lia o livro via exatamente as cenas do filme passando em minha cabeça. Até mesmo as falas do narrador coincidem com o livro. Somente uma coisa que não bate: a morte da Mary. Ela sobreviveu por mais um mês após sua tentativa de suicídio, quando, na segunda vez, bem como sua irmã Cecília, teve êxito na sua morte.

O livro pra mim, significa muita coisa. A forma que é abordado o universo feminino é incrível. Ainda mais vistos sob olhos masculinos. Pra quem é homem e não sabe o "fardo" (note as aspas, por favor) que é ser uma garota, deve ler esse livro.

Como eu leio fazendo marcações em citações que eu acho bonitas ou interessantes, vou transcrevver tudo pra cá. Não pra vc, leitor imaginário. Mas para quando eu quiser ler essas passagens em qualquer lugar que eu não tenha o livro em mãos.

"Cecília havia liverado seu sangue na banheira porque era assim que os antigos romanos faziam quando a vida se tornava insustentável."

"Tomamos conhecimento de céus estrelados que as meninas haviam contemplado anos antes durante um acampamento, do tédio de verões arrastados entre o quintal dos fundos e o jardim da frente e de novo os fundos, e até mesmo de um certo cheiro indefinível que subia das privadas em noites de chuvas e que as meninas chamavam de "esgoto". Soubemos o que se sente ao ver um menino sem camisa e como isso levava Lux a escrever o nome "Kevin" com marcador roxo vezes sem conta nas páginas do seu fichário e até mesmo no sutiã e nas calcinhas, e compreendemos sua raiva ao chegar em casa um dia e descobrir que a Sra. Lisbon tinha alvejado as roupas, apagando todos os "Kevin". Soubemos como dói o vento frio do inverno entrando por debaixo da saia, como é sofrido manter os joelhos juntos na sala de aula, e como é monótono e irritante ter que pular corda enquanto os meninos jogam beisebol. Nunca conseguimos entender por que as meninas faziam questão de ser maduras, nem por que sentiam tanta necessidade de elogiar umas às outras, mas às vezes, depois de um de nós ter lido em voz alta um longo trecho do diário, tinhamos que combater o desejo de nos abraçar ou de dizer uns aos outros como éramos bonitos. Sentimos o aprisionamento que é ser garota, e como isso torna a mente ativa e sonhadora, e como a gente acaba sabendo quais as cores que combinam entre si. Soubemos que as garotas são nossas gêmeas, que existíamos todos no espaço como animais de idêntica pele, e que elas sabiam tudo a nosso respeito embora nós não soubéssemos nada delas. Soubemos, afinal, que as garotas são na realidade mulheres disfarçadas que compreendem o amor e até mesmo a morte, e que a nossa tarefa era apenas gerar o barulho que parecia faciná-las".

"Tudo segue para a frente e para fora, nada desmorona. Morrer é diferente do que jamais se crê, e mais afortunado".

"Os dois ficaram calados, junto com nossos pais, e percebemos como eram velhos, como estavam acostumados a encarar traumas, depressões e guerras".


"Naquele momento o Sr. Lisbon sentiu que não sabia quem ela era, que os filhos são somente estranhos com quem a gente concordo em viver".

"Nós só queremos viver. Se nos deixarem".

"A tragédia não a havia tornado mais abordável, e na verdade lhe dava a impalpável essência de alguém que sofreu mais do que pode expressar".


"A gente nunca se recupera. Mas consegue chegar a um estágio em que não dói mais tanto".

"Lá fora, além das janelas que espiávamos durante toda a semana, além das ruas, vivia o mundo que, a velha Sra. Karafilis sabia muito bem, estava morrendo há anos".


"Afinal, não foi a morte que a surpreendeu, mas a teimosia da vida".


"O que minha yia yia nunca conseguiu entender na América é por que todo mundo finge ser feliz o tempo inteiro".

"O inverno é a estação do alcoolismo e do desespero".


"Até mesmo nossos pais pareciam concordar cada vez mais com a versão televisiva das coisas, ouvindo as bobagens dos repórteres como se pudessem nos contar a verdade a respeito das nossas próprias vidas".


"No final, as torturas que haviam dilacerado as Lisbon apontavam para uma recusa simples e lógica de aceitar o mundo como lhes era oferecido, tão cheio de falhas".


"A essência dos suicídios não consistia em tristeza ou mistério, mas em simples egoísmo. [...] Tornaram-se poderosas demais para viver conosco, preocupadas demais consigo mesmas, visionárias demais, cegas demais".


"Não podíamos imaginar o vazio de uma criatura que encosta uma navalha nos pulsos e abre as veias, o vazio e a calma".



C'est ça.


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Para não se deixar vencer pelo cotidiano em 2011

EU SEI, MAS NÃO DEVIA
Clarice Lispector

Eu sei que nos acostumamos. Mas não devíamos.
Acostumamo-nos a morar em apartamentos de fundos, e a não ter outra vista que não as janelas em redor.
E porque não temos vista, logo nos acostumamos a não olhar lá para fora.
E porque não olhamos lá para fora, logo nos acostumamos a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abrimos as cortinas logo nos acostumamos a acender cedo a luz.
E à medida que nos acostumamos, esquecemos o sol, esquecemos o ar, esquecemos a amplidão....

Acostumamo-nos a acordar de manhã sobressaltados porque está na hora.
A tomar o café a correr porque estamos atrasados.
A ler o jornal no autocarro porque não podemos perder o tempo da viagem.
A comer uma sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite.
A dormitar no autocarro porque estamos cansados. A deitar cedo e dormir pesado sem termos vivido o dia.....

Acostumamo-nos a esperar o dia inteiro e ouvir ao telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem recebermos um sorriso de volta.
A sermos ignorados quando precisávamos tanto ser vistos.
Acostumamo-nos a pagar por tudo o que desejamos e o que necessitamos.
E a lutar, para ganhar o dinheiro com que pagar esses desejos e essas necessidades.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagaremos mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar....

Acostumamo-nos à poluição.
Às salas fechadas, de ar condicionado e cheiro a cigarro. À luz artificial.
Ao choque que os olhos sofrem com luz natural.
Às bactérias na água potável.
Acostumamo-nos a coisas demais, para não sofrermos....
Em doses pequenas, tentando não perceber, vamos afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá....

Se a praia está contaminada, molhamos só os pés e suamos no resto do corpo.
Se o cinema está cheio, sentamo-nos na primeira fila e torcemos um pouco o pescoço.
Se o trabalho está difícil, consolamo-nos a pensar no fim-de-semana.
E se no fim-de-semana não há muito o que fazer, deitamo-nos cedo e ainda ficamos satisfeitos porque temos sempre o sono atrasado.
Acostumamo-nos para não nos ralarmos com a aspereza, para preservar a pele.
Acostumamo-nos para evitar feridas.
Acostumamo-nos para poupar a vida. Vida que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A terra da garoa e da Clarice

Como assim? Que semana foi essa? Regada, literalmente, de muuita chuva e trânsito em São Paulo. Atoooron. Começou assim, quarta-feira, Mônica, Thiago, um cara que eu esqueci o nome e eu, fomos ao HSBC assistir "Non ma fille, tu n'iras pas danser". Filmes alternativos, sabecoméquiéné? Não entendi necas, mas gostei. A atriz principal parecia eu na TPM HAHAHA. A fotografia do filme é, de tão simples, linda de morrer.

Depois, como é de praxe de quando eu passo na Paulista, fui na Livraria Cultura saltitando, com dinheiro na bolsa destinado à um livro que eu li sobre em uma revista e me interessei muito.
Clarice, (sim, Clarice vírgula) é uma biografia da Clarice Lispector de "apenas" 647 páginas escrita por Benjamin Moser. Além dele, já que estou recentemente numa fase Clarice da vida, encomendei Perto do coração selvagem, também da Lispector, que eu pegava na biblioteca toda vez que passava na frente da mesma. E que da última vez, há duas semanas, quando o livro não estava disponível, decidi comprar um exemplar pra chamar de meu.
Eu nunca achei que ia gostar dos livros da Clarice. Quando li
A hora da estrela, no colégio, eu odiei. Talvez pela imaturidade do momento ou pela obrigação de ler para fazer uma prova. Mas, ano retrasado, após a insistência sutil de uma amiga carioca, Lica, de ler frases de seus livros, eu cedi. E quando, no final de 2008, eu estava tentando estudando na biblioteca e vi na estante ao meu lado Laços de família, abandonei as equações matemáticas e me entreguei ao livro, que adorei. A partir daí, me apaixonei e até cogito fazer uma tatuagem com uma célebre frase. "Liberdade é pouco, o que eu desejo ainda não tem nome".

O resto da semana foi bem... São Paulo. Choveu, aaah como choveu.
O dia inteiro. A marginal travou, tudo alagou, a cidade, o estado, o Sudeste ficou um caos. Ai, na Quarta à noite, a mesma carioca responsável pelo meu vício, me liga dizendo que está em São Paulo e que vamos (sim, ela, as melisseiras do flickr e eu) na SPFW. Topo, topo, topo, por que não? Ai, acordo na Quinta e... a marginal alagada. Adoro. Sem condições logísticas pra ir pro Ibirapuera o que me restou foi terminar de ver o meu super box de Sex and the city. Horas, dias gastos com a Carrie e o Mr. Big. Adoro!

Depois de um ataque monstro da minha gastrite, tudo aparece pra eu fazer né? Inacreditável o quanto uma doença pode ser sarcastica! Minha xará, Thuanne, me liga horrores na sexta à noite enquanto eu dormia pra evitar a dor da gastrite. Ela queria ir pra Dj, ou pro Milo, ou pra algum lugar. Infelizmente, não tava muito afim de vomitar em cima dela de novo (desculpa Thu) /interna. E na madrugada, minha outra xará, Thuanny, (gente, que mundo bizarro) me convida pra ir pra praia no sábado. Adoro antecedência HAHAHAHA. Não pude ir, por falta de recursos financeiros e saúde.

Bem, essa semana preciso fazer um novo projeto. Porque o tédio me deixa doente, fato. E que esse final de semana não me reserve nenhum ataque de gastrite inesperado. Se quiser me achar, só procurar um guarda-chuva verde limão aberto.