quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

6 hours late

A gente tinha passagens da British Airways (BA) pra Londres. O aconselhável para voos internacionais é chegar com 3 horas de antecedência. Foi o que eu fiz, saí de casa às 2pm do primeiro dia do ano. Nosso voo era às 6pm. Estava chovendo pra caramba e um puta trânsito da Hélio Smidt. Ficamos mais ou menos 1 hora ou mais no trânsito, em um lugar que demoraríamos no máximo 10 minutos pra chegar ao aeroporto.
Finalmente cheguei e encontrei a Cris, uma das meninas que iam no nosso bloqueio com a London Connexion. Ela é do Sul e antes mesmo de nos conhecermos no aeroporto já conversávamos pelo Facebook sobre a viagem. E se tornou uma ótima amiga e companheira lá em Londres.
Um tempo depois chegaram mais pessoas que eu não sabia quem era de outras cidades e estados. Finalmente chegou o Douglas, atrasado por causa do trânsito. Na verdade, aquela era a única via de acesso para o aeroporto e estava totalmente bloqueada por causa de um evento religioso que estava acontecendo no local. Todos os ônibus de viagem que estavam chegando estacionavam no meio da pista. Bem coisa de fanático religioso e prefeitura de Guarulhos mesmo.
A Marcela estava super preocupada porque ainda estava no trânsito, e todos já haviam chegado. Fizemos check-in e despachamos as malas. E ficamos no aguardo, tudo indicava que o voo iria atrasar.
Quando todos chegaram, os funcionários da BA disseram que o voo iria mesmo atrasar no mínimo 3 horas. Mas foi pior que isso, ficamos no aeroporto por 6 horas. Só embarcamos meia noite, devido ao atraso da tripulação do avião e aqueles esquemas de aeroporto que a gente nunca entende.
O jeito foi ficarmos jogados no chão do aeroporto jogando, conversando e comendo (por cortesia da BA pra não morrermos de fome nessas 6 horas). Quando chegaram ônibus para a gente embarcar na pista (odeio quando as aeronaves não usam os fingers pra gente embarcar, é difícil carregar mala na escada, sabia?) eu nem acreditei! Finalmente estavamos indo para Londres!
O voo não foi lá muito tranquilo, tinha muita turbulência. E a comida, tipicamente britânica e ainda de avião, não era aquelas coisas. O jantar até que era comível, mas o café da manhã... Quem aguenta comer linguiça, cogumelos e ovos no café da manhã? Por favor né... Vamos equilibrar a comida dos voos diretos e dividir: jantar britânico e café da manhã brasileiro.
Minha dica pra voos longos é: leve um hidratante e uma garrafa de água e tente beber água ou algum líquido sempre. O ar condicionado é muito forte, te faz tossir, te dá alergia, te deixa seco. Fora que o espaço das cadeiras econômicas não é o mais confortável, então, estejam preparados pra um voo bem complicado. Mas dá pra aguentar se você ficar pensando em Londres ou se você levar um Lexotan pra dormir pesadamente até chegar em Londres, afinal, são 11 horas de voo.

Bem, no próximo post conto sobre a chegada, a nossa casa e os primeiros detalhes que todo mundo deve saber quando chegar em Londres. Cya!


Summertime sadness

Finalmente, estou postando aqui, depois de mais de um mês. Percebi no primeiro dia em Londres que não ia conseguir manter o blog enquanto estivesse por lá. Tudo isso porque não tinha tempo nem pra fazer as coisas básicas de um turista, imagine só manter um blog com informações pra futuros intercambistas né?! Então, resolvi fazer tudo direito e com detalhes depois que eu voltasse. Só que isso demorou mais do que eu esperava.
Já voltei faz 10 dias e ainda não me acostumei com o Brasil. Gostei tanto de Londres que não queria voltar nunca mais! Ai voltei e já estava esse calor aconchegante de 32ºC. Pra quem não curte calor, não fui nem um pouco bem recepcionada pelo meu país.
Ainda estou tentando me organizar, com as compras, com as malas (que eu só guardei em cima do guarda-roupa hoje), com meu moleskine, etc. Por isso demorei tanto tempo pra vir postar. Aliás, nem no meu moleskine eu consegui escrever em Londres, escrevi tudo depois que eu cheguei no Brasil, e olha que deve estar faltando muita coisa, porque minha memória não me ajuda nunca. E ainda não terminei de escrever tudo o que eu quero escrever, sobre lugares, pessoas, lojas, etc.
Bem, vou usar outro post pra começar contando sobre nosso voo, sobre o atraso e tudo mais. Let's go!


Minha trilha sonora depois do meu retorno é essa.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Keep calm and carry on!


Finalmente chegou o dia! Nosso voo é hoje, às 6pm. Tô morrendo de ansiedade e vou morrer de overdose de omeprazol!
Tô nervosa com tudo, imigração, peso das bagagens, extravio! Eu só vou me acalmar depois de conhecer a residência em que vamos ficar. Chegaremos no aeroporto de Heathrow às 7am.
Eu realmente espero que não esteja esquecendo nada. Fiz um check-list mas tenho certeza que tô esquecendo coisa. Meu ipod tá sendo meu melhor amigo nessas horas, pra me ajudar a organizar tudo.


























*Na verdade, tô levando 1 moleton também.
Sim, eu levo muita necessaire. Dizem que ocupa muito mais espaço, mas eu não ligo, prefiro perder espaço e continuar organizada. Pelo menos eu sei onde tá cada coisa e não vou ficar tão perdida. Estou levando tudo isso da lista na mala grande (rosa, da penélope charmosa, don't ask!). Meus gadgets eu estou levando na mala de bordo, câmera fotográfica, filmadora, cabos, notebook, bijuterias, roupa de frio (luvas, cachecol e casaco) e 2 livros.A mala grande ficou com 25kg!!! A pequena está com apenas 9kg. Ainda bem que voos do Brasil pode levar malas de até 32kg. E ainda pretendo comprar outra mala lá, pra voltar cás muambas. Olhando bem pra lista agora, tem várias coisas que eu não coloquei ainda. Coisas óbvias, como roupa íntima, meias, etc. É que são coisas que eu dificilmente vá esquecer, de tão essenciais que são.

Ainda me aproveitando dos aplicativos da apple store, também baixei um aplicativo que dá pra ter um controle maior do quanto vou gastar lá. Você coloca seu orçamento, vai adicionando as despesas diárias e ele vai subtraindo do orçamento automaticamente. Acho que vai ser útil para ter um controle do dinheiro em espécie. Cartão de débito podemos ter um controle maior pelos extratos que podemos pegar na internet, por isso não tô muito preocupada com isso agora.

Dormi só 5 horas de ontem pra hoje. Acordei meio com febre, tossi a noite toda. Foi tenso. Mas eu acho que isso é só ansiedade. Bem, vou tomar café da manhã e terminar os últimos detalhes para partir!

See you in London!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Retrospectiva 2011

Final de ano eu gosto de relembrar tudo o que eu fiz durante o ano. Ver o que valeu a pena e o que não valeu. De fato, o ano não foi um dos mais fáceis. No primeiro semestre parecia que ia ser um ano maravilhoso. Mas no segundo semestre parecia que tudo dava errado. Me afastei de várias pessoas que eu achei que eu estaria junto pra sempre. Não sei me culpo ou culpo meu DDA e a minha decisão errônea de começar a me tratar. De qualquer maneira, eu estou bem agora, apesar dos pesares.
Sinto falta de muita gente, a maioria dos meus amigos estudam em outras cidades (outros no exterior). Achei que ia me sentir mais sozinha, mas estou indo bem. Curto esse tempo de reflexão.

Bem, com as baladas de sempre, saí bastante até. Mas o que me surpreendeu foram os shows. Fui em três shows inesquecíveis esse ano.
Em abril fui ao show do Ozzy, no Anhembi. Era um dia chuvoso e ainda lembro dos meus pés nas poças e eu tentando controlar a capa de chuva. Ficamos longe do palco porque chegamos tarde. E tinha a comemoração do meu aniversário logo depois do show no Alberta #3, e as pessoas estavam me esperando. Foi tenso. Mas valeu a pena! Amei o show!


Em julho, a Avril veio pro Brasil. Ela tocou no Credicard hall e, sinceramente, foi o melhor show da minha vida. Fiquei pertíssimo do palco e cada momento foi mágico. Eu só me arrependi de não ter ido nos dois shows que ela fez, só isso <3


Por último, mas não menos importante, o show do New Order, também no Anhembi. Apesar do show ter sido curtíssimo, com apenas 9 músicas, eu amei. Ficamos na grade, vi o Barney com aquela dancinha dele super de perto e ouvi Bizarre love triangle ao vivo. Foi muito amor! Infelizmente o show aconteceu num festival de música eletrônica, então, já pense no tipo de pessoa que estava no local. Tivemos que passar a madrugada lá, e foi uma tortura. Mas valeu a pena pelo show.
~la dancinha~

Mas acho que a coisa mais diferente que eu fiz esse ano foi ter participado da Zumbie Walk. Foi muito legal a gente se maquiar como zumbies e sair pelo centro da cidade vestidos assim. Indo de metrô foi o mais engraçado. Todos olhavam pra gente. Mas o pior foi voltar pra minha cidade sozinha toda trabalhada no sangue. Foi hilário!
Little monsters

E por fim, fiz duas tatuagens que eu tanto queria fazer. Minha caveira na costela e uma caveira de viadinho (risos) na perna. Doeu a minha vida, mas não me arrependi (ainda).
Embora o ano tenha sido difícil, eu tive a oportunidade de conhecer e ficar amiga de pessoas maravilhosas da minha faculdade. Não vou citar nomes, mas eles sabem quem são. Já estou com saudades dos rolês com eles!

E que venha 2012 (e o fim do mundo)!
:)))


domingo, 25 de dezembro de 2011

God save the Street View

Hoje eu não tinha nada pra fazer, resolvi então procurar alguns endereços no Street View para saber como vai ser nossa casa e os arredores em Londres.
Vamos morar no sudeste de Londres, "próximo" à London Bridge e à 40 min da Oxford St. e da nossa escola. O bairro, pelo st. view, parece ser bem residencial e tranquilo. Não há bares nem grandes lojas por perto. Não consegui achar números nas casas, mas pelas minhas contas, moraremos nesta.



Acho essas casas germinadas tão fofuras. Elas parecem muito pequenas, mas pela minha experiência vendo House Hunters International e Property Virgins eu sei que elas têm muito potencial. *Tuany futura agente imobiliária*

Claro que eu já fui ver o que tinha de interessante nos arredores. Além de ponto de ônibus e estações de metrô próximas (bem ao contrário do Brasil), também contamos com redes de fast food que muito me atraem.

Esse Mc Donalds fica a 7 minutos da nossa casa. Sinto que iremos muito nesse lugar. Já até decorei a rota.


Um pouco mais longe, temos um KFC, lugar que eu nunca comi, mesmo tendo aqui em SP. Porém, depois que fiz um trabalho sobre a rede, me apaixonei pela história e pelas comidas gordurosas, sem ao menos ter tido a oportuna de prová-las.

Indo para o centro de Londres, nossa escola, por sorte, fica pertíssimo da Oxford St. Ou seja, temos a desculpa de ir todos os dias para o centro fazer compras! Procurei no st. view e nossa escola parece ser essa.


Minhas preces para que eu não tivesse que andar muito à pé pela cidade parece que foram ouvidas. Tem um ponto de ônibus right in front da escola. Dá pra ver o double decker pela imagem. É muito amor!!!

O tour virtual por Londres foi esse. Mas claro que também tinha que pesquisar Paris, óbvio que eu já tinha visto quando fomos planejar a viagem e reservar o hotel, mas tinha que deixar registrado. Sinto que vou precisar dar uma olhada aqui no blog quando eu tiver meio perdida.

Nosso hotel em Paris fica na mesma rua de 2 estações de metrô e também de... adivinha... um Mc Donald's! O hotel parece ser simples, mas tem várias vantagens. Fica relativamente próximo ao centro e também próximo ao Eurostar, que é o trem que vamos fazer o trajeto London-Paris e vice versa.

L'hotel

Le mc donald's

Eu só espero que nenhum maníaco-do-albergue-stalker-torturador veja esse post porque tem todos os endereços dos locais que eu frequentarei. Medo! Estou ansiosa pela viagem! Faltam exatamente 7 dias. CAN'T WAIT!

C'est ça!





domingo, 18 de dezembro de 2011

Panic on the streets of London

Faz milhares de anos que eu não posto aqui no blog. Mais por preguiça do que por falta de tempo, afinal, o semestre foi levado arrastado e eu mais fui em festa do que estudei. Mas foi merecido depois do primeiro semestre tenso que eu tive.

Enfim, nas férias de Julho eu aproveitei pra procurar um intercâmbio para fazer em janeiro. Fui em feiras de intercâmbio, visitei muitas agências (muitas mesmo) e fiz orçamento em todas para um curso de 4 semanas em Londres.
De todas as agências a que mais me chamou atenção com os preços e o atendimento foi a London Connexion. Fui com minha amiga Marcela na agência que tem em Jundiaí, já que estava de férias no interior. Meu outro amigo pegou informações no escritório que eles têm em São Paulo. Nem foi combinado, mas todos decidiram ir pra Londres, porque foi o lugar que mais chamou nossa atenção. Fechamos o pacote para pagar em suaves (nem tanto assim) prestações até o mês que antecede a viagem (no caso, dezembro).

Eu fui levando tudo numa boa pensando "aaaah, ainda tem muito tempo até a viagem". Já sabe qual foi o resultado né? Faltam 14 dias pro embarque e eu ainda não comprei as libras, devido à alta cotação. E claro que eu fiz as coisas mais importantes nas últimas duas semanas como: fazer o VTM, abrir uma conta no banco (sim, tenho 22 anos e nunca tive uma conta), comprar as malas, etc.

E pra melhorar, há duas semanas também resolvemos passar um final de semana em Paris, para aproveitar a zuropa com o que ela tem de melhor. Resolvemos ir de Eurostar, para ver as paisagens enquanto viajamos e evitar caos em aeroportos. Foram HORAS pra comprar, resolver horários, reservar assentos próximos, a operadora do cartão de crédito liberar o cartão pra compras internacionais, etc. Na outra semana também passamos por longas 3 horas para achar um hotel com custo benefício apropriado, que não fosse tão longe do centro de Paris. Escolhemos um hotel da rede Ibis, que fica no 18éme, com estação de metrô na mesma rua e ainda um Mc Donalds (claro que isso foi item de prioridade na nossa escolha). Google maps e street view rulez!

Minha maior preocupação no momento é o preço da libra, já está quase tudo nos eixos para embarcarmos. Apesar da demora da agência em nos dar detalhes de como será na imigração, na escola, na residência estudantil, eles sempre nos respondem prontamente. Espero ter feito a melhor opção.

Agora como eu tô me organizando para não me perder por Londres como eu me perco por São Paulo dirigindo COM GPS? Bem, comprei um guia "Londres a Pé". Comprei na feira da minha faculdade antes mesmo de fechar com a agência. Tem uns lugares pra visitar muito legais e o melhor: tem um mapa! Não que isso vá me ajudar muito, mas né?!


Acho que todos sabem o quanto eu sou apaixonada por moleskines, e claro que não podia deixar de ter um Moleskine City Notebook para a viagem. Apesar do preço salgado, meu instinto Becky Bloom me fez comprá-lo. Mas eu simplesmente não me arrependi em nenhum momento.

Eu comprei na loja online da FNAC, mas não achei o produto pra colocar o link. Eu paguei uns 70 reais. Ele tem espaços para anotações livres, anotações de pessoas que você conheceu, de lugares, restaurantes, lojas. Tudo separadinho e organizado. Além dos tradicionais mapas, ele vem com umas folhas transparentes para você colar em cima do mapa e fazer rotas. É a coisa mais inteligente que eu vi na vida! Já fiz as rotas para a escola, lojas que eu quero ir na Oxford St., museus, etc! Ainda falta muita coisa pra anotar, endereços, telefones importantes, mas acho que vou fazer isso só na última semana, quando tivermos nossa residência definida.

No pré-embarque vou postar novamente (espero) dizendo o que eu vou levar nas malas, se eu estou morrendo de gastrite de tanta ansiedade, essas coisas. Eu já estou ansiosa e mal posso esperar! Acho que vai ser a viagem da minha vida. Só estaria mais perfeito se minha bff Tati, que está na Irlanda fazendo intercâmbio, pudesse ir à Londres para ficarmos bêbadas juntas. Infelizmente, com a alta da Libra, e a falta de dinheiro, estamos com dificuldades nos ver. Mas ainda tenho esperanças que conseguiremos nos ver por lá! Ou eu indo pra Dublin vê-la, ou ela indo para Londres <3 Afinal, ela só volta para o Brasil em Outubro, ai vai ser difícil controlar a saudade.

Bem, c'est ça!
beaj!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

The virgin suicides


Hoje vou fazer um post diferente. Vou falar de um livro que eu terminei de ler hoje: As virgens suicidas, de Jeffrey Eugenides. Quando me indicaram o filme homônimo, lá pelos anos 2000, me apaixonei. Tanto pela história em si quanto pela fotografia do filme. Mal sabia quem era Sofia Coppola na época, por isso minha inocência. Também mal sabia que o filme era uma adaptação de um livro.

Descobri há alguns anos que havia um livro, mas nunca tive oportunidade de ler. E de uns anos pra cá, ofuscada por Clarice Lispector, não queria ler mais nada que não fosse desta. Mas, diante a oportuna de 12 reais e minhas semanas monótonas de férias, comprei o livro e o li em 3 dias.

Falo primeiramente do meu interesse por assuntos demasiados depressivos. Desde nova, acho que pela influência primeiramente musical, me interessei por isto. Quando "descobri" o rock com Nirvana, era impossível ignorar o suicídio do vocalista Kurt Cobain. Aos 13 anos já tinha lido até mesmo a biografia do cantor, com uma... digamos fúnebre curiosidade pela morte dele.
Depois, com o suicídio de familiares relativamente próximos, tive mais contato com o assunto. Acho que há uma predisponibilidade à depressão na minha família, pensando nos casos mais atentamente. Anyway, passando por músicas deprês dos Smiths, Joy Division e David Bowie (sim, eu também gosto de coisas boas), eu sempre tive esse gosto pelo melancólico.
Claro, que todos esses fatores aumentam minha curiosidade e me fizeram ler esse livro.

The virgin suicides (título original) foi muito bem adaptado por Sofia Coppola. Enquanto lia o livro via exatamente as cenas do filme passando em minha cabeça. Até mesmo as falas do narrador coincidem com o livro. Somente uma coisa que não bate: a morte da Mary. Ela sobreviveu por mais um mês após sua tentativa de suicídio, quando, na segunda vez, bem como sua irmã Cecília, teve êxito na sua morte.

O livro pra mim, significa muita coisa. A forma que é abordado o universo feminino é incrível. Ainda mais vistos sob olhos masculinos. Pra quem é homem e não sabe o "fardo" (note as aspas, por favor) que é ser uma garota, deve ler esse livro.

Como eu leio fazendo marcações em citações que eu acho bonitas ou interessantes, vou transcrevver tudo pra cá. Não pra vc, leitor imaginário. Mas para quando eu quiser ler essas passagens em qualquer lugar que eu não tenha o livro em mãos.

"Cecília havia liverado seu sangue na banheira porque era assim que os antigos romanos faziam quando a vida se tornava insustentável."

"Tomamos conhecimento de céus estrelados que as meninas haviam contemplado anos antes durante um acampamento, do tédio de verões arrastados entre o quintal dos fundos e o jardim da frente e de novo os fundos, e até mesmo de um certo cheiro indefinível que subia das privadas em noites de chuvas e que as meninas chamavam de "esgoto". Soubemos o que se sente ao ver um menino sem camisa e como isso levava Lux a escrever o nome "Kevin" com marcador roxo vezes sem conta nas páginas do seu fichário e até mesmo no sutiã e nas calcinhas, e compreendemos sua raiva ao chegar em casa um dia e descobrir que a Sra. Lisbon tinha alvejado as roupas, apagando todos os "Kevin". Soubemos como dói o vento frio do inverno entrando por debaixo da saia, como é sofrido manter os joelhos juntos na sala de aula, e como é monótono e irritante ter que pular corda enquanto os meninos jogam beisebol. Nunca conseguimos entender por que as meninas faziam questão de ser maduras, nem por que sentiam tanta necessidade de elogiar umas às outras, mas às vezes, depois de um de nós ter lido em voz alta um longo trecho do diário, tinhamos que combater o desejo de nos abraçar ou de dizer uns aos outros como éramos bonitos. Sentimos o aprisionamento que é ser garota, e como isso torna a mente ativa e sonhadora, e como a gente acaba sabendo quais as cores que combinam entre si. Soubemos que as garotas são nossas gêmeas, que existíamos todos no espaço como animais de idêntica pele, e que elas sabiam tudo a nosso respeito embora nós não soubéssemos nada delas. Soubemos, afinal, que as garotas são na realidade mulheres disfarçadas que compreendem o amor e até mesmo a morte, e que a nossa tarefa era apenas gerar o barulho que parecia faciná-las".

"Tudo segue para a frente e para fora, nada desmorona. Morrer é diferente do que jamais se crê, e mais afortunado".

"Os dois ficaram calados, junto com nossos pais, e percebemos como eram velhos, como estavam acostumados a encarar traumas, depressões e guerras".


"Naquele momento o Sr. Lisbon sentiu que não sabia quem ela era, que os filhos são somente estranhos com quem a gente concordo em viver".

"Nós só queremos viver. Se nos deixarem".

"A tragédia não a havia tornado mais abordável, e na verdade lhe dava a impalpável essência de alguém que sofreu mais do que pode expressar".


"A gente nunca se recupera. Mas consegue chegar a um estágio em que não dói mais tanto".

"Lá fora, além das janelas que espiávamos durante toda a semana, além das ruas, vivia o mundo que, a velha Sra. Karafilis sabia muito bem, estava morrendo há anos".


"Afinal, não foi a morte que a surpreendeu, mas a teimosia da vida".


"O que minha yia yia nunca conseguiu entender na América é por que todo mundo finge ser feliz o tempo inteiro".

"O inverno é a estação do alcoolismo e do desespero".


"Até mesmo nossos pais pareciam concordar cada vez mais com a versão televisiva das coisas, ouvindo as bobagens dos repórteres como se pudessem nos contar a verdade a respeito das nossas próprias vidas".


"No final, as torturas que haviam dilacerado as Lisbon apontavam para uma recusa simples e lógica de aceitar o mundo como lhes era oferecido, tão cheio de falhas".


"A essência dos suicídios não consistia em tristeza ou mistério, mas em simples egoísmo. [...] Tornaram-se poderosas demais para viver conosco, preocupadas demais consigo mesmas, visionárias demais, cegas demais".


"Não podíamos imaginar o vazio de uma criatura que encosta uma navalha nos pulsos e abre as veias, o vazio e a calma".



C'est ça.